segunda-feira, 29 de junho de 2009

O que chamamos AMOR

" O diamante se constrói
quando o procuramos juntos
no meio da nossa vida
e cresce, límpido, cresce,
na intenção de repartir
o que chamamos de amor."


Thiago de Mello

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Um Poema de SARAMAGO
Intimidade

No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressoante,

Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,

No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.

José Saramago

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Domingo, 28 de Junho de 2009
Uma leitura de minha infância
O meu pé de laranja lima
José Mauro de Vasconcelos

Uma história triste

É um livro extremamente marcante, comovente e triste. Marcante pela ironia da sua história, comovente pela simplicidade transmitida e com que é escrito e triste pela dor e pelas perdas retratadas. Um livro que eu gostei de ler e que pela sua simplicidade e frontalidade me transmitiu a sua mensagem e sentimentos imiscuídos de uma forma subtil e profunda. Com uma mescla de turbulentas emoções e pequenas conquistas e vitórias, vividas pelas personagens, que vêm ao rubro de forma simples e eloquente em cada palavra, eu senti-me como se também eu participasse na história. Neste livro o mais importante não é os grandes feitos ou qualquer outro acto considerado por nós, na nossa cegueira e egocentrismo, digno e merecedor de importância, mas sim, as pequenas coisas, que no fundo acabam por ser as mais bonitas e importantes; as pequenas vitórias; a dor e a conquista, do mundo real e da vida real, que acabam por ter uma fantasia mais doce e bonita e um misticismo mais profundo, do que as grandes lendas ou histórias, apenas pelo que são.
José Mauro de Vasconcelos conta-nos a história de um menino chamado Zézé, com seis anos, pobre, extremamente inteligente, sensível e carente. Não encontrando na família e nas pessoas a ternura e o afecto de que necessita, Zézé entrega o seu amor às pequenas coisas, mas em especial a Xuxuruca ou Minguinho, o seu pé de Laranja Lima, que se torna o seu grande confessor, amigo e companheiro de brincadeiras. Com Minguinho, Zézé protege-se do mundo real com uma barreira feita de brincadeiras, canções e da doce ilusão da inocência.
Numa tentativa de despertar as pessoas que o rodeiam para a sua presença, ele sai para a rua fazendo asneiras e pregando partidas, o que tem como consequência as enormes e tradicionais "zurras" de que infelizmente é alvo. Zézé vive uma vida triste e pobre, onde consegue encontar a sua luz e felicidade através do seu enorme coração e capacidade para amar e perdoar. Mas este Mundo está prestes a mudar. Zézé acaba por descobrir a ternura e carinho de que tanto necessita com o seu amigo "Portuga", que torna a sua existência agradávell e feliz. No entanto... a história de Zezé é recheada de ironia... Quando finalmente o seu pai volta a ter um emprego capaz de lhe proporcionar uma vida confortável e estável, perde também os seus dois grandes centros e geradores de ternura e felicidade. Zézé descobre o que é a dor da perda e da saudade, perdendo assim também a sua inocência e capacidade de se abstrair do Mundo através de brincadeiras, histórias e pequeninas crenças. "Por que contam coisas às criancinhas?".

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Sábado, 27 de Junho de 2009
Livro do Desassossego
Fragmento 204 - Livro do Desassossego - Fernando Pessoa in Bernardo Soares
imagem: Luis Lobo Henriques




Nuvens... Hoje tenho consciência do céu, pois há dias em que o não olho mas sinto, vivendo na cidade e não na natureza que a inclui. Nuvens... São elas hoje a principal realidade, e preocupam-me como se o velar do céu fosse um dos grandes perigos do meu destino. Nuvens... Passam da barra para o Castelo, de ocidente para oriente, num tumulto disperso e despido, branco às vezes, se vão esfarrapadas na vanguarda de não sei quê; meio-negro outras, se, mais lentas, tardam em ser varridas pelo vento audível; negras de um branco sujo, se, como se quisessem ficar, enegrecem mais da vinda que da sombra o que as ruas abrem de falso espaço entre as linhas fechadoras da casaria.


Nuvens... Existo sem que o saiba e morrerei sem que o queira. Sou o intervalo entre o que sou e o que não sou, entre o que sonho e o que a vida fez de mim, a média abstracta e carnal entre coisas que não são nada, sendo eu nada também. Nuvens... Que desassossego se sinto, que desconforto

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